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Arquitetos: Gramática Arquitectónica
- Área: 200 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Luis Díaz Díaz
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Fabricantes: Cortizo
Descrição enviada pela equipe de projeto. A permacultura teve início nos anos 70 e é um sistema de princípios agrícolas baseado nos padrões e características do ecossistema natural. A palavra permacultura vem da contração em inglês das palavras permanent&culture para se referir à agricultura como processos permanentemente sustentáveis. Podemos viver sem tirar fotos e postá-las na rede, mas não podemos deixar de comer todos os dias. A agricultura tem moldado nossas paisagens e sociedades, e no caso do projeto Costiña, molda a implantação dos módulos de estadia temporária no terreno.
Estamos em Santa Comba, um município no interior da Galícia com relevo plano e suaves ondulações. As pastagens se misturam com o monocultivo de eucalipto que cerca o terreno em quase todo o seu perímetro. A primeira ação instintiva realizada no local foi criar um pequeno muro vegetal perimetral, uma pequena fronteira que marca a divisão entre realidades paralelas. Fora da muralha vegetal não haverá mudanças de cor nas estações, o eucalipto é uma árvore que permanece estática durante todo o ano. Dentro da muralha verde será feita referência à outra Galícia de cores mutantes e estações, as árvores nativas caducifólias, flores, hortas...
O terreno foi organizado internamente através de círculos de diferentes tamanhos, que geram infinitos percursos, pelos quais se pode percorrer e aprender sobre os processos de cultivo dos produtos que depois serão servidos no estabelecimento. Não se busca a linha reta, mas a suavidade e as histórias que são geradas dentro e fora de cada círculo. Para as edificações, partiu-se de uma dupla premissa, por um lado, terão um elemento estático na sua base, uma escada de pedra que não toca as edificações. Por outro lado, os módulos remetem ao céu, pousam sobre o solo, mas deixam sempre o vento e os organismos fluírem abaixo.
Com a ação de separar os módulos do solo, consegue-se interferir menos no movimento natural do terreno, com suave inclinação que permite vistas do vale. Os módulos se reduzem a duas plataformas ou lajes cuja forma remete a algumas moradias encontradas em fortalezas, mas também ao futuro sonhado.
A laje inferior oferece um platô onde internamente cria-se um ambiente com quarto, banheiro e pequeno escritório com sala, e por outro lado gera um terraço externo onde é possível se sentar em meio às flores. A laje superior é uma cobertura que protege da chuva e do sol, interior e exterior como grande alpendre circular. A laje superior é também uma cobertura ajardinada extensiva, num ato de devolver ao terreno alguns metros quadrados verdes que contribuirá para que pequenos insetos polinizadores possam enriquecer as culturas.
Depois vêm as fachadas contínuas, sendo possível desenhar num único gesto seu perímetro e incluindo as grandes aberturas verticais que reforçam esse espaço entre ambos os mundos. A materialidade das edificações é marcada pelo uso da cor branca, em sintonia com as edificações tradicionais da região, e somente se rompe o branco com as esquadrias que buscam criar contraste entre a cor de fundo e a cor dos móveis, as portas e as janelas, marcados de castanho escuro. Busca-se reforçar a sensação de que o exterior se mistura com o interior, com pisos e tetos mantendo a mesma textura e tons, somente distintos das peças do mobiliário e das paredes internas, gerando um ambiente acolhedor.